domingo, 18 de novembro de 2012

IX

"O que é isso que sinto?
Que me mata,
me transborda,
que passa por mim dentro,
que destrói minha glória...

Como é isso que sinto?
Um cheiro suave de olhar,
um toque ácido de verão,
algo que me conforta,
me entorta...

Será isso que sinto por ti?
Um tesão lento,
um sorriso atento,
uma luz no fim do túnel,
uma fantasia louca..."

domingo, 11 de novembro de 2012

Mudança

"Tudo mudou nas madrugadas frias,
nas geleiras amargas,
na neve sobre a grama.

Tudo mudou no amanhecer,
na coberta colorida,
no nascer do sol.

Tudo mudou nos abraços,
nos espaços entre nós,
nas nossas brincadeiras.

Tudo mudou nas nossas madrugadas
ainda que geladas
aquecidas no amanhecer.

Tudo mudou nas encostas,
nas livres gaivotas voando
sobre o mar, no olhar.

Se tudo mudou
é porque o que era
não era importante.

Os únicos olhos brilhantes
eram os meus,

Se tudo mudou
nada fazia sentido,
nos vazios vividos,

nas conversas íntimas,
no seu olhar."

Lembrança

"Já amei e fui amado
no lar estirado do céu
na penumbra doce e macia
como a poesia de tua voz

Uma leve orgia me dessangra
Me banha em dor
O suor que escorre de teus ouvidos
Tintura meu calor

Me despedaçando em mil milhões
De rosas paulistanas
Procurando uma erva matinal
Uma flor que se abre durante a noite

Uma dor de água e sal
E mais uma rosa branca de amor
Junto com ela um vagalume verde
Trazendo em seu peito lento

Um trato que contigo preenchi
Assinei uma perna destratada de leão
Devorando em carne um camaleão

Deixando de lado todo aquele tititi."

Lança chamas

"Preso no espírito santo
Tu me chamas em vão
Com os olhos pregados na cruz
Escorrendo sangue pelas paredes

Teus olhos aborrecidos
Teus olhos estarrecidos
Joelhos estraçalhados
Teus olhos enigmatizados

Perdendo a voz do teu útero
Perdendo o chão dos teus pés
Perdendo a vida dos teus filhos
Chamando a luz da hipocrisia

Chama a vida e a agonia
Chama o ódio e a desilusão
Chama, prende, corre, escorre
Perde, anda, lança chama e lança luz"

Escadas Rolantes

"Rolam vidas
Rolam pés
Subidas, decidas
O que der e vier

Muda o homem
Prova seu sedentarismo
Rola a hora
Rolam solas

Prova do homem
Prova do progresso
Destruição da alma
Construção do corpo regresso

Rolam objetos
Rola pressa
Te levam e trazem
Dividem o passado do futuro

Futuro incerto
Futuro insano
Rolam cabeças
Rolam brinquedos

Rola o homem para a decadência
Enganam o homem
Conservam o regime
Rolam rolantes"

Estação Luz

"O doce som da monotonia poluidora,
Som do cotidiano.
Pessoas encrustam seus fios eletrônicos

Nos ouvidos tentando fugir do automatismo,
Correm desesperadamente para cumprir
Compromissos atrasados.

Um metrô, uma integração de linhas,
Uma integração de vidas,
Desesperos, histórias.

Tanta gente, tua voz ecoa em meus ouvidos
Tua vida se encontra com a minha.
Uma estação de luz, cidadania,
Liberdade, útero, vida.

Mulatos, brancos, índios, pardos
Desespero, pressa, alegria,
Uma Estação de Luz a cada dia."

VIII

"Sol, lua, uma penumbra doce
Paira sobre o mar
Onde as gaivotas voam

Entorpecidas pelo cheiro da dor
E uma rosa recém cortada
Adormece sobre o sangue

De tuas pernas apodrecidas
Pelos vinhos das madrugadas.
Pó de indigentes invade a cidade
Matando todos os que não acreditam no amor

Enquanto a luz descobre os cantos
Dos pequenos gnomos
Amordaçados pelas velhas viúvas."

Palavras

"Cavalo, mordaça, sutileza
Sequela, praça, tristeza
Palavras que me trazem tons

Juçara, terra, amor
Liberdade, poeta, flor
Palavras para fazer chorar

Paixão, suor, terror
Dor, perdão, cor
Palavras que se contradizem

Uma série de palavras jogadas
Sem sequer pensar demais
Marcadas pelo tom, o choro e a paz"